Neste Aterro virtual, despejo minhas impressões deste mundo insólito. Avisem aos catadores, pois eles sabem que em meio a entulhos e monturos sempre se tira algo que preste. Vou tentar descarregar aqui, de maneira irrestrita o conteúdo de minha cabeça, cachola, que esta sempre a transbordar.

Warlen Dimas

sábado, 23 de abril de 2011

HILDA MARQUES

Minha avó desencarnou em uma quinta feira 15/07 de 2010 ela sofria de Alzaimer em nível bem avançado, seu coração também não estava nada bem, se recusava sempre a comer... ela se foi provavelmente ainda dormindo , nos disse minha tia Neuza que cuidou dela por anos...Lembranças  ela já não tinha mais , não sabia quem era quem... eu deixo aqui no aterro minha homenagem cheia de saudade  das lembranças que ainda tenho dos dias e messes passados ao seu lado ...
 A casa era uma casa dessas de paredes grossas pintadas em um tom claro de azul, com duas janelas que nos permitia a qualquer hora ver quem subia para a rua do centro ou de lá voltava, como e com quem...quartos de um lado e de outro como vasos sanguíneos e contíguos ao corredor veia principal da casa, ponto de encontro de todas as gerações.
La fora no quintal o forno de barro lançava ao ar instigando a todos  o cheiro da broa , do biscoito trançado recheado de queijo, que veio  do leite das três vacas cultivadas quase que exclusivamente para estas finalidades gastronómicas, quitutes feitos por uma senhora atenciosa e simples com o dom de transformar em netos todos que a conheciam...
Ja que a casa era uma casa dessas onde todos se entregam a gula mas sem culpa, o que se ganhava em excesso ia se perdendo na lida de todo dia que começava cedo mantendo a mesa sempre farta e colorida e se comia de tudo horas antes e depois do almoço...
As tardes tinham o gosto da cana caiana, água do rio que corre lá longe logo alí depois de algumas esquinas ,quinas, cheiro de mato, gabiroba, manga de veis, doce de leite com queijo, coceira de carrapato, batida caseira feita do "Ki-Suco" , jogo de truco onde todo mundo grita seis e é ladrão, bandido, pato , pai , filho , tio , primos até então desconhecidos todos debaixo dos galhos de um velho abacateiro manteiga...
E a tarde também sabe-se lá o porque do horário escolhido por todos pra se falar mal mais sem maldade do  cumpadi  ausente , das filhas da cumadre mexeriqueira em meio a gostosas gargalhadas com os causos do passado , a prosa vai conduzindo a passos desprovidos de qualquer motivo de pressa... até qui lá vem , lá vem , elas as murisocas, pernilongos determinados a sugar o sangue de todos e acabando assim com o papo fiado pondo em reticesencias toda especie de assunto , vem elas murisocas anunciar a noite que na roça e sempre mais plena , as estrelas são em dobro , a lua e mais cheia e crescente , os grilos cantam sem receios mórbidos , o som da viola  chega a nos urbanos mais sincero , toca lá onde tem que tocar na gente, quem nunca se viu envolvido por simples acordes, canções antigas...
Noite na roça mineira e sempre assim...animada, calma , tudo e todos são de uma simplicidade que por aqui na cidade e quase que vendida...até que um primeiro bocejo surge sabe-se lá da onde que puxa outro...e outro contagiando a todos que vão se retirando..." Bença vó ?! , Deus ti abençoe!! Bença vô !? Dorme cum Deus! ce cumeu ?!...cumi !! Boa noite !! ba notchi !!...".
E a casa mineira de paredes grossas pintadas em um tom de azul claro, com suas duas janelas de olhos agora cerrados dorme mais um dia...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

RUA DOS IPES, CAMINHO DOS AUSENTES

Este aterro, esta caçamba cachola sempre tão a transbordar de "coisas" carrega em si entulhos de lembranças antigas que se reciclam por si só,vindo a tona ou não independendentimente a minha  vontade...

Talvez se abrir agora o dicionário esteja lá escrito dentro das definições de " envelhecer" o passar por uma rua escolhida assim ao acaso..." Não, hoje eu vou quebrar a rotina, vou por aqui ". E ao dar os dois primeiros passos por ela, pronto!...toda uma carga emocional penetra-lhe as solas do calçado e este conforto criado e aperfeiçoado a cada estação o que por consequencia afasta-nos também o dialogo primitivo entre terra e epiderme, mas vá lá ,não venho aqui tratar destes rompimentos entre nós e o planeta, não hoje, por agora me esforço em transcrever somente estas sensações...
Aquela rua, ai aquele trecho comprido e estreito como as artérias que nos conduzem a vida, estava mudado, ele é e não era mais o mesmo,nem eu que distante  cruzava por obrigações que vão surgindo e tomando forma e espaço condusindo-nos por outras ruas destinos, avenidas, mudamos os dois, e eu ali caminhava devagar detendo os olhos no que já não existia fisicamente como o armarinho da dona Cleide, parada certa na saída da escola, cem metros a frente já não morava mais na casa que ainda era azul aquela menina que habitou os sonhos de todo uma sala de aula, como era mesmo o seu nome??...se foram casas, pessoas queridas, ele esse operário incansavel da vida a quem chamamos por  TEMPO, levanos tudo operando os seus imprevisiveis designos , transformando a tudo e a todos, eu cruzava aquela rua ou melhor, meu corpo orgânico cumpria as ordens de nunca deixar que depois de um passo falte outro e outro...eu, eu mesmo não me encontrava ali, mas no mínimo a sete anos atrás por dias mais espontâneos e ate mesmo alegres onde as preocupações eram outras...não sei se estou usando a palavra certa " Pré-ocupação " talvez seja como se diz : " Pesado" demais...nos vivíamos um dia após o outro e fazíamos o que nos acostumaram aos berros a fazer..." Warlen !! já são sete horas, levanta!!!...." Na verdade minha mãe sempre adiantava em uma hora o compromisso que nos cabia cumprir, cuidados de mãe que hoje entendo muito bem , mas que me fizeram saltar da cama tantas vezes e banho até frio tomei para logo em seguida o locutor da radio anunciar : " As lojas Lua de Mel informam a hora certa na capital mineira, seis horas!!...Seis horas!! Oh ! mãe!!...".
Mais depois de uma rua vem sempre outra seja dobrando-se a esquerda ou a direita, as vezes avenidas, vias expressas, viadutos, passarelas...e  sem perceber já estava a mais ou menos dez minutos distante da rua que me fez escrever este texto, voltava a mim, a carcaça orgânica aos poucos, já bem próximo de casa...
_ Tudo bem Warlen ?!...Senti em sua pergunta uma preocupação sincera o que por sua vez por contagio me preocupou...
_Tudo bem sim !!...
_Eu passei por você outro dia cara ti cumprimentei mas você estava com um olhar tão distante,uma cara engraçada, parecia que ce tava rindo sei lá !...
_Ah!! foi a uns três dias né?! lá na rua dos Ipés?!... tem dia que eu to meio voado mesmo....".

sexta-feira, 8 de abril de 2011

PÃO E CIRCO

Pão e circo, dos tempos de Roma antiga foi do que se utilizou a burguesia para manter sobre o controle da alienação a plebe a massa que por motivos justos se indignava, se revoltava, assim como nós... como nós ??!
E  contra o que mesmo?! afinal e história antiga...contra atitudes tão antigas e ainda atuais como o propio imperialismo, contra a exploração do homem pelo homem.
História antiga esta que se repete não em históricos anfiteatros romanos, mas no chão de fabricas onde trabalhadores são condicionados a cada manhã, onde quanto mais se valoriza as coisas o que produz, menos valor tem quem as produziu..."Mais e os benefícios!?" você me pergunta e o salário??...eu  respondo, o salário é uma mascara,fantasia a esconder a verdade, a de que eu e você somos explorados.
Temos as nossas forças e criatividades sugadas, você produzindo os parafusos de carros que nunca terá, eu e tantos outros produzindo espetáculos teatrais em campanhas de popularização do que ?! reforçando preconceitos?! o meu teatro serve realmente a quem?! a qual classe ele de fato favorece..." Mas eu não tomo partido de nada!!...".Não " tomando" partido meu amigo(a) qual dos lados esta se fortalecendo??.. 
Existe aqui em Belo Horizonte uma tal classe artística?!...Não,as passeatas as ações em coletivo vam até a esquina onde  um "roncar" das entranhas um medo ancestral da fome dispersa iniciativas levando cada um a pensar a se debrusar sobre o seu projeto "E que se dane o grupinho lá do acaba mundo!!..."e eles os que empunham as canetas do sim e do não, aprovam com um sorrir todo benevolente seu projeto sendo o mesmo que dizer : " Cale a sua boca e mantenha o circo , artista !! " Artistas da fome, e o pão  e o circo, feudalismo, exploração leis de incentivo , pão e circo, história antiga e tão presente.