Debaixo do cobertor que estava escuro de imundo, debaixo da marquise sem luz de uma noite sem estrelas, seca, palavras floresciam regadas por cervejas bem ao lado, lado que não vem agora ao caso, pois debaixo de esmulambado cobertor haviam dois corpos em trapos desbotados da moda retrasada e quentes de alegria, o de um homem e o de uma mulher cor e idade não importa mais sim que conversavam tão espontâneos e do olhar de um e de outro existia tanta vida e luz, pra não chamar de amor...
E isso que sentiam era tão expandido, belo e simples e eram os dois tão felizes em toda aquela sujeira de porta de bar, guimbas, tampinhas de garrafa eram como que flores naquela relva de areia e cimento cheia de cheiros de sei lá o que...e era todo esse acumulo de vícios algo tão pequeno e decorativo, era nada se mesmo no silencio que trocavam verdadeiras caricias de afagos mudos...mais não foi por isso que ninguém ouviu, nem os que ainda ao lado regavam rindo alto as palavras muito menos os homens e mulheres que por ali ao lado passavam apresados, somente excitados demais, por tudo que nos vislumbra as pupilas a cada ciclo de ir e vir de primaveras onde anos são cores de rabos de saias, satisfações imediatas do corpo, absorventes, anos das aquisições matérias a criação de filhos o envelhecer e continuar a enchengar um pouco mais lucidamente mesmo que seja nos anos finais...
Mais eu mesmo não vi, não ali quando passei sentado no ónibus indo ou vindo pra onde não me lembro, vivi em diversas paradas até por fim,além de ver, enxergar que isso, isso tudo que chamamos de amor, existe mesmo quando dele não se da conta, agindo ininterrupitamente na ausência do físico, de palavras, no absoluto silencio , afagos na alma...Naquele casal de moradores de rua, nos pombos de sarjeta nas mãos cheias de história em formato de linhas e rugas ele existe ainda na ausência da palavra que não encontro para descrever o que sinto sobre tudo,nos, você que me lê e não conheço quem acredito conhecer... os mundos que nos cercam...